Georges Labica, Professeur, ami et camarade, le jour de ses obsèques
Comment dire la perte que la mort de Georges Labica signifie pour moi? Comment exprimer le tant que je conserve de lui? C’est la capacité humaine de comprendre, d’expliquer et de faire face aux contradictions, ce qui mieux traduit pour moi l’homme formidable qui a été Georges Labica. Il a été mon directeur de recherches pendant le doctorat – rigoureux et exigeant, mais toujours attentif et gentil. Lui, l’équipe de recherche qu’il dirigeait au CNRS et sa famille m’ont généreusement accueillie, alors que je me sentais comme un petit oiseau perdu dans l’hiver néolibéral qui figeait l’université française. Je dois à Georges l’une des plus riches expériences de ma vie. Avec lui, j’ai compris comment le travail intellectuel renforçait l’exigence militante; j’ai appris que le vrai communiste devait être toujours un intellectuel et un chercheur. Il ne suffisait pas déclarer une option politique ou théorique: il fallait la souder par le travail, la forger dans les débats, la consolider par les recherches, la soumettre à l’action. Et surtout jamais se laisser détourner par les solutions de compromis ou de facilité. Georges reste pour moi le plus solide paramètre d’un intellectuel, d’un marxiste et d’un communiste – cohérence, rigueur, proximité dans les luttes et, en même temps, l’ouverture pour comprendre les camarades, les amis, les étudiants. Je perds le professeur, l’ami, le camarade, le copain. Il était un vrai communiste, internationaliste, ouvert vers le monde et l’universel, pris dans le sens fort du mot. Um homme toujours prêt à combattre les faussetés si abondantes dans les temps qui courent, à affronter les petites misères des petits universitaires qui ne font que voiler avec des tristes arguments les impérialismes et les colonisations de tout bord. Je conserve précieusement sa leçon: la lutte se mène dans les textes et dans le monde. Il est très difficile pour moi de parler de Georges dans le passé. Les milliers de kilomètres entre la France et le Brésil n’ont jamais été un distance effective entre nous. Georges était toujours proche, dans les textes, l’amitié, la cohérence, dans la généreuse exigence, et dans les rencontres dans plusieurs luttes autour du monde. À chaque rencontre, j’apprenais un peu plus.
Nadya, Pierre, Thierry, amis depuis longtemps: partout dans le monde, nous pleurons avec vous cette immense perte. Je vous embrasse très tendrement, avec toute mon amitié. Nous avons perdu l’homme, nous conservons ce géant dans nos vies et dans nos luttes.
Virgínia Fontes, à Rio de Janeiro, le 17 février 2009.
Georges Labica, mestre, amigo e camarada, no dia de seus funerais – 17/02/2009 Na madrugada do dia 12 deste mês, faleceu na França o filósofo e militante revolucionário Georges Labica, vitimado por uma hemorragia cerebral. O enterro será no dia 17/02/09, no cemitério de Le Pecq, pequena cidade próxima a Paris, onde ele e sua mulher, Nadya, residiam. Como falar das perdas que a morte de Georges Labica representa para mim? Como
falar do tanto que conservo dele? É a capacidade humana de compreender, explicar e enfrentar as contradições, capacidade da qual ele foi plenamente plasmado, o que melhor traduz para mim o homem formidável que foi Georges Labica. Fui sua estudante de doutorado – e ele foi rigoroso e exigente, mas sempre doce e afável. Ele, sua família e o
grupo de pesquisa que dirigia me acolheram generosamente, quando me sentia uma avezinha perdida no inverno universitário dos tempos neoliberais. Eu devo a Georges Labica uma das mais ricas experiências da minha vida. Com ele, compreendi como o trabalho intelectual reforça a exigência da militância, aprendi que o verdadeiro comunista devia ser sempre um intelectual e um pesquisador. Não bastava declarar uma opção teórica: era precisa soldá-la com trabalho, forjá-la nos debates, consolidá-la nas pesquisas, submetê-la à ação. Sobretudo, era preciso nunca se deixar desviar por soluções de facilidade ou de compromisso. Georges permanece para mim o mais sólido parâmetro de um intelectual, de um marxista, de um comunista. Coerência, rigor, proximidade nas lutas e, ao mesmo tempo, a abertura para compreender os camaradas, os amigos, os estudantes. Perco o professor, o amigo, o camarada, o companheiro de lutas. Um verdadeiro comunista, internacionalista, aberto para o mundo e o universal, tomados no sentido forte da palavra. Um homem sempre pronto a combater as falsidades tão corriqueiras nos tempos atuais, a afrontar as as pequenas misérias dos pequenos universitários intelectuais, cuja atuação vela com tristes argumentos os imperialismos e colonizações de todo o tipo. Conservo preciosamente sua lição: a luta se trava nos textos e no mundo. Não consigo ainda falar de Georges no passado. Os milhares de km entre a França e o Brasil jamais constituíram uma distância efetiva entre nós.
Georges estava sempre próximo, nos textos, na amizade, na coerência e na exigência generosa, e nos encontros em diversas lutas pelo mundo afora. A cada encontro, eu aprendia um pouco mais. Nadya, sua companheira de toda a vida, Pierre et Thierry, seus filhos, todos
amigos de longa data: nós, em todo o mundo, choramos com vocês a perda de Georges. Meu mais afetuoso abraço para vocês, nessa dor inconsolável. Perdemos o homem, mas conservamos esse gigante em nossas vidas e em nossas lutas.